terça-feira, 17 de agosto de 2021

na dúvida e na fidúcia

a mão coleciona cortes
pequenos cortes
desses que você não sabe onde foi
onde fez
mas que ardem com o poder de cem
mil cortes
ardem sem sangrar
sem deixar grandes cicatrizes

e pensar que podem vir da quina aguda de uma
folha de papel
do espinho de uma flor
ou mesmo da falta de cuidado num dia de
inverno
e pensar que podem vir do gancho de uma
unha
sendo a fera e a presa uma mesma
pessoa
e pensar no ardor e na latência
de suas instâncias ínfimas
de suas dimensões infames 

não se chora por um corte desses
se aguenta sem fazer qualquer caso
na dúvida, não duvida, não faz nada
deixa que a pele inflama

áspera 

espera ser regenerada



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