terça-feira, 25 de julho de 2023

inverno

acordo no meio da noite
sem ter dormindo o bastante
e espero que um novo sono venha
como um cavaleiro em uma carruagem

no meio da estrada num mato 
onde eu estive? andando a noite toda
o vestido já cheio de terra, uma barra tão longa
que não se vê o fim
e pesa

se arrasta por todas as coisas
perdidas nos tempos no espaço
as agulhas finíssimas de uma estória infantil
os cacos de vidro arraigados

a borda sem nenhuma borda
só o abismo no vestido opera
máquina de moer imagens

o inverno enegrece tudo 
e a neve
é só movimento 
o céu caindo as pedaços, ínfimas partes
de um céu negro
da boca da negrura
e o ar que sai da boca é só movimento
tudo se move no sonho
e cai e se espalha e se arrasta

*

o corpo já vive sem pernas
as mangas não trazem os braços
o ar frio que parece gelar o sangue
é o único indício que ainda há um corpo

mas fecha os olhos

e tudo se transforma em uma única saia
que contorna todo o mundo 
ou essa ilha onde estamos
uma obra de arte de christo
um segredo revelado

vem a neve cobre tudo 


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